09/12/2021

Você sabia que o Futebol no Brasil só foi permitido para mulheres a partir de 1983? Partindo desse contexto masculinizado, resistências femininas têm criado experiências de futebol com mulheres e questionado a violência de gênero. 

Uma metodologia que busca promover a cultura de paz e transformar os campos em territórios de diálogo: este é objetivo do Futebol de Rua (ou Fútbol Callejero, em espanhol), umas das ações implementadas no Projeto Regional Interpaz. Com o apoio de terre des hommes Alemanha e do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), essa metodologia é desenvolvida no Brasil pela organização não-governamental Ação Educativa.

Polos de Futebol de Rua no Nordeste

No Projeto Regional Interpaz, foram criados 7 novos polos de futebol de rua. Três deles no Nordeste, em parceria com o Instituto Esporte Mais, a Associação Quilombola de Conceição das Crioulas (AQCC) e o Grupo Afirmativo de Mulheres Independentes (GAMI). No estado de São Paulo há outros quatro polos: Piratinhas, Além das fronteiras e dois na Fundação Casa, com meninas integrantes da unidade de medida socioeducativa.

Os polos do Nordeste, assim como o Piratinhas, em São Paulo, foram criados em parceria com organizações que já trabalham esse esporte com mulheres. “Também as duas unidades femininas da Fundação Casa atuavam com futebol e outras atividades. No Nordeste, as organizações  trabalham com futebol inclusive para formação profissional” conta Marília Frois, coordenadora do Interpaz na Ação Educativa.

A ideia de levar o Futebol de Rua ao Nordeste surgiu durante a elaboração da segunda edição do Guia de Futebol e Cultura, em 2021. A Ação Educativa já conhecia algumas organizações desde o encontro realizado para a primeira edição do guia. “Elas não aplicavam apenas o treino de futebol, mas também já discutiam direitos humanos, questões de gênero e mulher”, explica.

Além disso, segundo Marilia, os grupos já tinham como característica desenvolver ações relacionando questões de gênero e cultura de paz.

Instituto Esporte Mais

Uma das organizações que desenvolvem a metodologia do Futebol de Rua no Nordeste é o Instituto Esporte Mais. Conhecida como IEMais, a ONG cearense fundada em 2014 nasceu da vontade de promover um espaço de esporte seguro para as mulheres. A Prefeitura disponibiliza as ‘’areninhas’’, locais onde as meninas podem jogar em segurança. 

Atualmente cerca de 90 meninas e mulheres participam do processo de formação teórica e prática oferecido pelo IEMais dentro do Projeto Regional Interpaz.

Nele, uma equipe multidisciplinar oferece apoio emocional, físico e social, com acompanhamento nutricional, odontológico e psicológico às participantes.

As reuniões teóricas abordam temas como a violência de gênero, usando como exemplo o movimento Agosto Lilás, mês de conscientização pelo fim da violência contra a mulher. Além disso, o projeto disponibiliza materiais personalizados e adequados para as participantes. “Em muitos lugares, as meninas usam uniformes maiores e materiais que não são adequados”, explica Mayra Rafaella da Silva, 27 anos, natural de Araras, no interior de São Paulo, e mediadora no projeto pela Ação Educativa. Para a educadora, uma das principais conquistas do projeto é reunir o grupo de meninas em um espaço seguro para jogar. 

Por meio de materiais em formato audiovisual, o IEMais vem documentando as atividades de formação com meninas, no módulo Futebol pela Igualdade. Em outubro, uma consultora técnica e jogadoras da equipe do Fortaleza Futebol Clube também foram convidadas a contribuir com esse debate.